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segunda-feira, 25 de março de 2024

Não deixando dúvidas

Quem se dispõe a escrever e publicar, certamente pretende ser lido, e nada melhor que receber comentários – críticas, sugestões e até eventuais elogios – dos leitores. Por isso sempre deixo endereço do e-mail ao final de cada texto. A crônica de domingo, 21/11/21, “Na velocidade do eagle”, (ver no Blog Crônicas da Madrugada www.cronicasdamadrugada.net ou nas edições digitais do Jornal Tribuna, SP e Jornal Impacto, BA), provocou reações diversas, dentre as quais uma que se tornou a razão desta.

Procuro sempre responder individualmente as mensagens que me chegam e que, independentemente do tom e do tema, são motivos de alegria. “– Toquei a atenção e a reflexão de alguém”. Longe de mim esperar apenas concordâncias, sou por natureza polêmico, reservo-me o direito de pensar, dizer e agir com total liberdade. Perdoem-me os que não me conhecem pessoalmente, não sou um desses tipos encrenqueiros, que brigam por qualquer motivo, são rudes e mal-educados. Pelo contrário, cultivo o bom relacionamento com as pessoas, com a natureza e com as melhores manifestações do espírito humano. Não vejam no que digo autoelogio. Sou um taurino teimoso, com ideias próprias, que custo a ser convencido, mas para quem argumentos inteligentes, serenos e bem-postos fazem funcionar o cartesianismo da minha formação de engenheiro.

Permitam-me transcrever o último parágrafo da crônica citada, que ensejou a arguição da leitora, cujo nome não tenho autorização para declinar, cujo questionamento pode ter sido de muitos outros, o que me faz trazer este esclarecimento ao coletivo.

“O Brasil terá eleições em breve, a polarização que há muito se observa no nosso ambiente político, sem que discutamos um projeto de nação para o mundo que se vai impondo, possivelmente nos levará a discutir sobre dois cadáveres ideológicos insepultos. Um erro de perspectiva!”

É sobre esse trecho que a perspicaz leitora formula sua questão: “Sobre os dois cadáveres ideológicos insepultos deve existir alguma ideologia vivente para você… ou não? Em existindo, poderia explicá-la?”

Para fundamentar os esclarecimentos pedidos, vou buscar o que se entende por ideologia e recorro ao dicionário on-line Infopédia, da Porto Editora:

1. Sistema de ideias, valores e princípios que definem uma determinada visão do mundo, fundamentando e orientando a forma de agir de uma pessoa ou de um grupo social (partido ou movimento político, grupo religioso, etc.)

2. FILOSOFIA estudo da origem e da formação das ideias.

Penso que a concepção de número 2 não se enquadra no objeto do que escrevi, nem na pergunta da leitora. Fiquemos, portanto, com a primeira.

Duas perguntas me são feitas. A primeira se deve haver alguma ideologia vivente para mim. Que respondo: Claro, existem inúmeras ideologias, para todos os temas que pensarmos, quase todas salvadoras, das que se referem à política, quase todas derivadas daqueles princípios que citei no texto. O marxismo e as teorias econômicas de suporte do capitalismo. Todas, a seu modo explicam e justificam o mundo como ele está.

Imaginando que eu conhecesse (ou professasse) alguma ideologia, mas que ainda não a tivesse declarado nos meus escritos, a atenta questionadora me solicita que a explicasse. Respondo:  –Não, não sigo nenhuma ideologia e vou explicar o porquê.

Ideologias e religiões partem de dogmas nas suas organizações filosóficas. De ideologia já falamos, falemos de DOGMA.

Vamos ao mesmo citado dicionário para pisarmos em terreno firme, que para o termo entende na: 1- RELIGIÂO doutrina proclamada como fundamental e incontestável; 2- FILOSOFIA ponto fundamental da doutrina; 3. Opinião imposta pela autoridade e aceite sem crítica nem exame; 4- proposição apresentada como irrefutável.

Concluo, sem esforço, que religiões e ideologias se fundamentam em dogmas. Na criação das religiões, os dogmas foram passados por ligações sobrenaturais do Criador a seus profetas ou de Deus a Seu Filho, no caso da crença cristã e isso não está aqui em discussão.

Os profetas dessas religiões modernas, as políticas, sociais e econômicas não são ungidos pelos céus, seus livros, com suas teorias não valem para a eternidade (mesmo que alguns adeptos fanatizados julguem-nas verdades eternas) em alguns anos custarão centavos no site da Estante Virtual, não cumpre, portanto, deificá-los.

Por isso, prezada leitora, não tenho pelas ideologias nenhum apreço. No caso particular da disputa presidencial que se discute desde o término da eleição de 2018, temos um arremedo de ideologia de esquerda, divulgada por alguém que se diz uma “metamorfose ambulante” e que disputa a eleição com outro que segue uma ideologia, vendida por um picaresco filósofo, cujo princípio é somente combater a primeira.

A polarização interessa somente aos dois polos, a famosa alternância do poder se dará entre eles. Se A se eleger em 2022, B lhe fará oposição (e mais ninguém significativo). O mesmo jogo de cartas marcadas, tentarão jogar em 2026, como já o haviam feito em 2018, e assim por diante. Na Casa de Noca só os dois grupos participarão da orgia.

Não sei se lhe respondi, cara leitora. Quero o que todos querem:

Um projeto de desenvolvimento sustentável para o país, proposto por gente séria com capacidade para levá-lo a cabo e que não seja apenas um banner de campanha.

Que se lixem os falsos profetas do ontem e do hoje e os ídolos com pés de barro, que deles se servem desavergonhadamente.

Crônicas da Madrugada.

Autor:

Danilo Sili Borges, membro da Academia Rotária de Letras do DF. ABROL BRASÍLI – Nov. 2021.
danilosiliborges@gmail.com

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