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terça-feira, 23 de julho de 2024

Viagem à Marte: um sonho

Resolvi respirar outros ares. Os do Brasil estão um pouco carbonizados. Além disso, as coisas andam meio que indefinidas. Crises estão sendo produzidas em todos os campos: político, econômico, social.

Estava sem sono e analisei para onde ir. Fui à Marte.

A viagem foi muito rápida. Um marciano apareceu-me, me pegou a mão e ocorreu algo mágico, pois, o percurso foi feito em segundos. Bastou engolir quatro mg de Clonazepan. Na chegada perguntou-me:

— Quanto tempo pretende ficar?

— Uma semana — respondi.

No que trata de transporte parece que os marcianos estão muito à nossa frente. Quem depende do transporte coletivo para ir ao trabalho que o diga. Deveria receber um salário por duas jornadas: a do emprego e a do translado. Meu percurso, no caso da viagem em epígrafe, foi por meio de teletransporte — ancorado pelo comprimido, evidentemente.

Em Marte, passei a observar cada detalhe. Parece que estavam vivendo tempos difíceis. O governante, ora no poder, se apegou tanto que não pensa em deixa-lo.

Entre os marcianos há uma fala generalizada de ‘crise institucional’. Por meio de algumas avaliações, percebi que não se trata disso, pois, tal situação ocorre quando há interferência múltipla entre os poderes instituídos, o que não fica configurado naquele caso. O problema deles é que o chefe do Executivo — lá também existem os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário — quer continuar no cargo. Para tanto, fica interferindo, digamos, querendo submeter os demais para que estes legitimem sua estadia no palácio de governo. Portanto, o que está ocorrendo naquele planeta é uma possibilidade de ‘criação de crise’. Não existe crise instalada, pois, não há atropelos entre os demais poderes.

Detalhe importante foi observar que os marcianos não são agressivos. Mas o chefe de governo é um grosso. Como dizia minha avó, uma toupeira — não querendo desmerecer o animalzinho, é claro — pois, é comum se dirigir aos governados com estupidez e falta de conhecimento. Entre aqueles seres há quem diga que o governante seja do período anterior ao choque com um asteroide tipo o Bennu, que indica alta possibilidade de chocar-se com a Terra — se for no Brasil, e, se estiver muito próximo tal evento, que o choque seja em Brasília. Mais precisamente no palácio do governo — colocou aquele planeta na posição atual e ainda produz sequela cerebrais, o que ocorreu com seu povo.

Os seres de Marte estão divididos em grupos. Os que prevalecem são: os com três olhos; os com dois olhos; os com um olho; e, os sem olhos. Os com três olhos possuem dois na face e um na parte traseira. O da traseira é classificado como ‘olho cego’ e enxerga somente para trás. Os com dois e os com um olho são moderadamente cegos. Possuem um pouco de visão no umbigo. Foi possível perceber, que, com raríssimas exceções, todos mudam de posição conforme a visão umbilical.

Durante minha pequena estada por lá, o planeta estava em processo de eleição para o governo central. Dois candidatos disputavam o cargo: Coiso, representante dos com três olhos, com dois olhos, com um olho e dos sem olhos. Coisão representante dos outros grupos. A disputa estava indefinida.

Tendo em vista as observações, percebi que por lá, a política é tratada como futebol e os políticos mais combatidos são aqueles com visão social, ao que eles chamam de defensores da vida em comum. Vale lembrar que esses não comem criancinhas e nem grãos. Os grãos são produzidos por grandes latifundiários e empresas interestrelares para tratar porcos, frangos e outros animais. Por conta disso, muitos marcianos vivem de ‘brisa’. E o governante está querendo facilitar a tomada, por estes, das terras dos povos primitivos.

Durante minha permanência naquele planeta, percebi que determinados ‘grupinhos’ pretendiam impedir o processo eleitoral. Porém, mesmo com a utilização de fakeadas — é assim que se escreve Fake News no idioma marciano —, as eleições foram efetivadas. Mas, um dos candidatos não eleito entrou com ação pedindo o auditamento da apuração. As urnas deles imprimem os votos. Assim, cada eleitor foi convocado a entregar sua via ao setor de apuração. Todos preocupados, pois, esta era a prova do voto — existem eleitores marcianos que votam somente por dinheiro, pagamento de conta fornecimento de energia elétrica, lajotas, cimento… — e, com isso, os candidatos poderiam identificar os traidores.

Assim foi feito, e, no momento em que o resultado seria anunciado, após o auditamento, o marciano que havia me levado apareceu repentinamente dizendo: — seu tempo acabou —, e, me trouxe de volta.

Acordei com a musiquinha de abertura do programa infantil ‘Bozo’. Concluí que o eleito havia sido o Coiso.

Caso alguém conheça conjuntura parecida aqui no Brasil, é mera coincidência.

Autor:

Pedro Paulino da Silva. Graduado em Ciências Sociais pela FAFI Cachoeiro de Itapemirim e Mestre em Educação Pela Universidade Federal do Espírito Santo.

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