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quinta-feira, 18 de abril de 2024

Um olhar sobre o Brasil

Vésperas do 199º aniversário da Independência do Brasil, 2021.

Meu Brasil, como escrever certo o teu nome? Como fazê-lo, se me transfiguras solene e inconsútil em mais um usufruto do teu bordel? Como posso, meu País, vê-lo assim: fraco, dividido, com hinos de Estados em solavancos dominando, sobre o Nacional, os estádios? Como posso vivê-lo se em menos de sete dias como em sendo cidadão, me já afigurastes as cinzas que loucamente tragas, e a fumaça que indignamente respiras?

Como viver, vendo-te tão longe das mãos que quisera eu fossem-te dadas!

Mas, pois, mesmo que se lhe sejam afinadas as notas e libertas as veredas pelas quais tanto almejavas trafegar, é-me triste saber, e nisso dói-me o peito sobremaneira, sob o cume do monte de asfalto murmurante, nas vielas de uma metrópole insossa e dispare, o sangue que em muitos hoje corre, tão apartado da hemoglobina da Justiça quanto da sua própria hemácia de caráter…até minha bandeira foi perdida: seus losangos amarelos não mais irradiam o belo sorriso das moças, bronzeadas sob o raiar do meio-dia de 2010, nem seu límpido céu todavia emana o anil do Cruzeiro que outrora cruzou o Altar do meu pai para lhe dar a benção. O Abril passou, 64 passou, mas 2021 e seu Setembro…nele tudo esvai-se exatamente como um dia se esvaía.

Em 7 de Setembro, 1822 – ou foi quiçá no amanhã? -, eis que repercute a Independência da mais lucrativa colônia Portuguesa, que cinco séculos mais tarde prostituir-se-ia, à revelia de bem sabes quem, perdendo a calcinha e junto a ela qualquer esmero de bom-senso, pudor e estria. O Brasil é uma mulher das mais sutis e diabólicas curvas, de tão intensas garras e tão firmes e travessos olhos que seus seios lhes conduzem ao sem-fim do aperto ao peito e às costas, naquela abraço que se machuca e deixa marcas, vale-o indubitavelmente pela espasmo.

Meu Brasil é sedutor, é loiro, é moreno, é mulato, é colorido, é negro, é sulista, é baiano, é paulista…e Republicano, eu acho. Foi golpe? Sim. Foi bom? Eu vou lá saber! Só sei que somos (ou por muito tempo fomos) o Brasil do SUS, do Itamaraty, da Semana de Arte Moderna, do Carnaval, do Samba; o Brasil das ruas, da imprensa, do sangue; o Brasil do brasileiro. E não será um efêmero sussurrar fascista que novamente fingirá outorgar, quando o fará promulgando, a libido e o fetiche dos problemáticos, reacionários, ignóbeis e ignorantes da própria história, da própria cidadania, da própria família, da própria religião, da própria pátria e da própria Liberdade, fulgor distante infindavelmente tremulante no horizonte que tentam, muito e amiúde, dissimular.

Que Deus abençoe este país e esta Liberdade.

Correm, os dois, sério perigo.

Autor:

João Gabriel Gaspar

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