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quarta-feira, 17 de abril de 2024

Brasil: um país entre a possibilidade e a imaginação

Se no outro lado do mundo, o Talibã tomou o poder no Afeganistão — diga-se que ocupou, considerando que seu presidente, Ashraf Ghani, fugiu antes da chegada dos talibãs —, do lado de cá, o território brasileiro começou até tranquilo, mesmo que a intenção do presidente daqui, seja a mesma daqueles do outro lado do mundo. O desse lado do mundo participou, segunda (16), do exercício da Forças Armadas em Formosa com direito ao disparo de tiros de canhão. Coisa que todo menino gostaria de fazer, e, que para os talibãs adentrar o gabinete do governo afegão nem foi necessária.

Enquanto o Talibã se alojou na sede de governo afegão, por aqui tem ganhado força o movimento do Ato de sete de setembro, contra o Supremo Tribunal Federal (STF), com a mesma finalidade. A diferença entre os movimentos é que lá, o presidente deixou o poder, enquanto por essa banda do mundo, o daqui quer continuar nele.

No que trata o Ato de sete de setembro, a justificativa para a convocação do mesmo é a de que se trata de um contragolpe, ou seja, um movimento para conter um golpe planejado pelo STF e pela esquerda. Coisa do imaginário, pois, ao que se sabe, a esquerda, a quase esquerda, a quase direita e o STF querem garantir o pleito presidencial de 2022. E o STF nem tem candidato.

Se há golpe planejado, fica por conta do propositor do ato, pois, boatos nesse sentido dão conta que tal imaginação é alimentada pelos altos comandos militares. Dizer que existe orquestração para um golpe político por parte da esquerda e do STF, é no mínimo, delírio de quem vem se distanciando, a cada dia, das possibilidades de reeleição e tendo queda livre na popularidade como chefe de governo.

Aliás, dentre os militares atuantes, parece não existir interesse em tomar o poder. A experiência de 1964 foi suficiente para que compreendam seu lugar entre as instituições brasileiras. Por outro lado, o Clube Militar — associação de oficiais inativos e ativos das três forças, ligadas ao Golpe de 1964 — ‘alinhado’ ao presidente, está convocando seus compartes e amigos a estarem presentes na manifestação, seguindo a orientação do ‘capitão’ que está acirrando apoiadores a irem às ruas em seu apoio.

Vale deixar esclarecido que o Clube Militar, que remonta suas atividades desde 1887, — e desse ninho, tudo se pode esperar, pois, teve grande peso no golpe da república de 1889, sendo, inclusive, protagonista daquele movimento —, recentemente, emitiu nota criticando o STF, intitulando-o como ‘Suprema Corte Desmoralizada’, onde questiona, inclusive, as ações dos ministros pelo fato destes não terem sido eleitos pelo povo. Questionamento, no mínimo ridículo e sem respaldo. Coisa de gente sem noção.

Ocorre que o capitão quer muita gente nas ruas para impressionar. É hora do vale tudo. E nesse ponto o Clube Militar pode dar uma forcinha. Isso poderia ser usado como mote a ser explorado em favor de sua des/campanha, que a cada pesquisa mostra a fragilidade de sua candidatura à reeleição — apesar da possibilidade de mudanças até o dia do pleito. E ao que tudo indica, entre alguns de seus próprios ‘alinhados’ alguém se encarregou de vazar mensagem de seu grupo fechado. Isso o deixou incomodado.

Diante dessa movimentação fica uma inquietação que não quer calar: se o ‘capitão presidente’ se queixa tanto do cargo que ocupa, e ontem, (19), em participação do Seminário Regional de Etnodesenvolvimento e Sustentabilidade Centro-Oeste, realizado em Cuiabá, queixou-se novamente dizendo, segundo artigo de Ivan Longo, da Revista Fórum, que ‘não faz questão de ser presidente’, por qual motivo tem feito tanto barulho para continuar, ou seja, na tentativa de ser reconduzido?

É possível que goste sim do poder. E o quer. Porém, o cenário não lhe está favorável. Pesquisas têm indicado sua queda na intenção de votos e impopularidade crescente a cada dia. Tanto gosta que quer continuar

Contudo, não se pode ignorar que haja nele o desejo de abdicar a candidatura, considerando que a realidade atual indica sua derrota em 2022. Por outro lado, é possível avaliar outras conclusões: o alto escalão das Forças Armadas não está satisfeito com seu governo; ele não está filiado a nenhum partido político, e, provavelmente terá resistência para filiar-se em maioria deles; sua desistência seria uma ação para fortalecer o Centrão e impedir a esquerda de voltar ao poder.

Essas são apenas algumas análises. Não se trata de mediunidades, são hipóteses. Na primeira, poderia ele estar sendo pressionado pelos seus pares militares à desistência da pretendida reeleição a fim de que os mesmos não sintam os respingos do resultado de 2022. Quanto à segunda, considerando sua queda livre e sua rejeição, seria, para qualquer partido, se a situação continuar como está, carregar uma carga escarnecida. Na última, significaria uma forma de tentar carrear os eleitores que ainda acreditam nele a votarem naquele que tem sido chamado de ‘Terceira Via’. Sem ignorar que surgirão ‘Outras Vias’.

Entretanto, vindo de quem vem, o inesperado pode acontecer, pois, esse presidente já fez diversas afirmações que não pretende deixar o poder, incluindo ameaças a realização das próximas eleições por meio de golpe de Estado.

Ontem (19) disse em Cuiabá, conforme anuncia a Revista Fórum, por meio de Ivan Longo “Não queiram minha cadeira. Não é fácil sentar naquela cadeira de ‘criptonita’ […] Tem muita, mas muita gente melhor do que eu por aí”. Por outro lado, hoje (20), conforme informa o GAZETA BRASIL e outros veículos de comunicação, protocolou, no Senado, texto organizado pala Advocacia-Geral da União pedindo impeachment do Ministro do STF Alexandre de Moraes, cuja tramitação depende de decisão do presidente daquela casa de leis. E ao que tudo indica, não deve prosseguir. É somente mais um ato de desatino.

Conforme veículos de comunicação, imediatamente, o STF emitiu nota de repúdio que afirma, segundo a Revista Fórum, dizendo que “O Estado Democrático de Direito não tolera que um magistrado seja acusado por suas decisões, […]. Como diz o provérbio português, ‘a melhor defesa é o ataque’.

Diante disso é bem provável que a cobra vai fumar é para o cantor sertanejo Sérgio Reis, aliado de primeira mão do presidente, por ter feito declarações contra o STF, repercutidas de forma negativa em todo o país.

Provavelmente, no texto protocolado deve estar constando pedido de clemência para Sérgio Reis pela morte do menino da porteira; por injúrias ao comparar uma senhora de certa idade a uma panela velha; por induzir o consumo de álcool com a pinga ni mim; por executar obras malfeitas com o dinheiro público, pois a casa tem goteiras; por crime ambiental com o feminicídio do João de Barro.

A clemência por Sérgio Reis pode até prosseguir no Senado. Quanto ao impeachment do Ministro Alexandre de Moraes, a repercussão foi adjacente, sendo compreendida como um ensaio de chantagem à Suprema Corte por parlamentares e outras instituições. Portanto, sem chances, pois, agorinha, foi admoestado pelo presidente do Senado Federal, Rodrigo Pacheco (DEM-MG).

Autor:

Pedro Paulino da Silva, graduado em Ciências Sociais pela FAFI Cachoeiro de Itapemirim e Mestre em Educação pela UFES Vitória.

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