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quinta-feira, 25 de abril de 2024

Pronomes neutros: reflexões sobre a Língua Portuguesa.

Inculta e bela. Foi desta forma que Olavo Bilac referiu-se à nossa língua pátria em seu poema intitulado “Língua Portuguesa”, publicado em 1914. O poeta parnasiano usou o termo “inculta” fazendo alusão ao Latim Vulgar utilizado em Portugal pelas classes mais populares, em contraste ao Latim Clássico, empregado pelas elites e usado na Itália.

Para ele, no entanto, a Língua Portuguesa continuava a ser “bela”, mesmo tendo origem em uma linguagem impura e popular. Em tom elogioso ao idioma falado por aqui, descreveu a Língua Portuguesa como “A Última Flor do Lácio”, região italiana de onde emergiram outras línguas derivadas do Latim Vulgar, a saber: Francês, Espanhol e Italiano.

Todo esse apreço e cuidado com a forma escrita do idioma parece ter ficado no passado, considerando os neologismos surgidos atualmente e utilizados com o interesse estéril de, por meio da língua, corrigir eventuais distorções encontradas na sociedade. Faz-se referência, notadamente, ao uso equivocado dos pronomes neutros todes, todxs, etc., os quais inexistem na gramática brasileira – formas que jamais passaram por qualquer acordo ortográfico submetido à Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).

Trata-se, ao que se percebe, de uma corrente ideológica que defende o uso desta forma errada de escrever, com o objetivo de incluir, na narrativa textual, as pessoas não binárias, ou seja, aquelas que não se identificam com o sexo masculino, nem com o feminino. Esquecem-se, contudo, de que o “gênero neutro”, com “o” no fim dos pronomes, é um gênero gramatical que significa “nem um nem outro” ou “nenhum dos sexos”, e não faz referência ao “gênero real”. Com efeito, qualquer alteração neste sentido, além de ser inócua do ponto de vista prático, é incorreta no que se refere à questão gramatical.

A mera celeuma ideológica é desmascarada quando se verifica que quando o Brasil teve uma chefe de Estado do sexo feminino, ela própria, e aqueles que a seguiam, fazia questão de reforçar a feminilidade do título, inventando o hediondo termo “Presidenta”, pelo qual exigia ser referenciada.

Enfim, o idioma é vivo e, como tal, pode e deve evoluir. Todavia, quando a Língua Portuguesa é utilizada de forma inescrupulosa para satisfazer devaneios ideológicos, ela continua a ser inculta como sempre foi, mas, certamente, torna-se menos bela.

Autor:

Renato Kern Gomes

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