É muito grande o número de entidades de defesa da natureza, contra a poluição, pela preservação de florestas e dos animais selvagens. O curioso é que não se percebe se essas ONGs se preocupam com a questão demográfica. Há algum sentido em lutar pela preservação da natureza sem que se ponha no centro do debate o problema da demografia?
Para cada ser humano que nasce haverá sempre menos espaço para outras espécies de vida, sejam elas vegetais ou animais. As campanhas de preservação esbarram na problemática do consumo humano, da necessidade de casa para morar, de esgoto para se livrar dos dejetos e lixos gerados.
É correto dizer que há descuido, desperdícios, desmatamentos desnecessários. Calcula-se que para cada dois hectares que alguém desmata menos de um hectare é devidamente aproveitada para produzir alimento. Portanto existe aí um desperdício de mais e 50%.
Se hoje fosse possível deter o desmatamento e a ocupação de novas terras, contando com a modernização da agricultura e da pecuária, diminuiria a pressão pelo desmatamento. Por exemplo, praticar o uso mais racional do solo, com novas técnicas, com aproveitamento integral das áreas já desmatadas em todo o mundo e com a reciclagem de materiais e lixos; também com a diminuição das industrias poluidoras, etc, haveria uma significativa queda no movimento humano na direção de áreas ainda intocadas. Seria possível alimentar a humanidade por mais uns 20, 30 ou 40 anos, mantendo a média anual de crescimento demográfico do presente. Mas, passado esse tempo, teríamos que ampliar novamente as áreas de cultivo e de criação de gado para alimentar essa população sempre crescente. Portanto, num prazo não muito longo, o ser humano estará de novo enfrentando o dilema de como preservar a natureza e ao mesmo tempo alimentar e fornecer conforto a uma enorme população de pessoas em todo o planeta.
Um dos grandes fatores de degeneração da natureza é a presença de imensas pastagens para a criação de gado. Portanto, no futuro, a questão do consumo de carne deverá ser questionada, tanto quanto a questão demográfica. Um bovino precisa de 1 hectare de terra por pelo menos 4 anos para fornecer menos de uma tonelada de carne. Qualquer grão produz muito mais do que isso apenas numa colheita. O feijão, por exemplo, produz entre 1,5 a 2 toneladas por hectare em apenas 4 meses e em 4 anos pode produzir 16 toneladas de alimento quase tão completo em nutrientes quanto a carne. A criação de gado pode ser aperfeiçoada com o rodízio de pastagens, com o confinamento, mas há limites para essas melhorias.
Outra questão é quanto a tentativa de impedir construções de estradas e empreendimentos imobiliários. Nota-se muito radicalismo nessa questão. A busca de conforto, de bens de consumo e de alimentos elaborados vai acompanhar, tanto o crescimento demográfico, quanto o crescimento econômico das nações e isso amplia enormemente a pressão sobre a terra, sobre os meios de produção de comestíveis e de bens de conforto. Nos países pobres essa pressão será ainda maior, pois essas populações querem ter o direito de melhorar sua qualidade de vida e se aproximar do consumo dos países ricos.
Com a população mundial crescendo incessantemente, haverá sempre pressão para o aumento do uso de mais terras, de estender as lavouras e pastagens. Isso pode gerar mais desmatamentos ou, no mínimo, a implantação de imensas monoculturas de uso intensivo de adubos, de herbicidas e agrotóxicos para combater pragas e isso elimina aves, insetos prejudiciais e também inofensivos, contamina lençol freático, polui córregos e rios, matando peixes e outros organismos aquáticos.
Tem ainda a questão da substituição dos combustíveis fósseis. O movimento mais forte que vemos e ouvimos pela mídia é o da substituição por combustíveis produzidos a partir da cultura de cana, leguminosas e milho, a primeira para gerar o álcool e as outras para criar o biocombustível.
Até aqui, estamos falando dos sintomas de uma doença que é a superpopulação mundial.
As entidades ecológicas, Ongs e movimentos preservacionistas que combatem a poluição, o desmatamentos, a monocultura, a construção de estradas, de usinas hidrelétricas gastam enorme energia na condenação dos sintomas do problema.
Quem acredita que o ramo do agronegócio tem prazer em derrubar mato, arar imensas extensões de terra para apenas destruir a natureza? Quem forma milhares de hectares de pastagem para engordar seu gado, faz isso porque tem mercado, tem bocas para comer toda a carne que seu gado dispor. O que precisa ficar bem claro é que o ataque à natureza não é produto da maldade humana, do desprezo pela vida vegetal e animal não diretamente útil; esse ataque obedece a necessidade de alimentar mais de 7 bilhões de seres humanos.
O mundo precisa de aproximadamente 10 milhões de toneladas de comida diariamente para sobreviver e estamos longe de atingir essa produção. Isso quer dizer que vem ainda muita pressão sobre o uso da terra, melhoria da produção, ampliação de áreas plantadas, mais adubo, mais veneno, mais monoculturas.
Só o Brasil precisa consumir diariamente 270 milhões de quilos de alimento para manter sua população adequadamente alimentada.
Resumindo, a questão de fundo e que paira acima de todas as discussões ecológicas é, na verdade, a mãe de todos os problemas. E esse problema é a imensa pressão demográfica. No longo prazo, poderemos, talvez, que enfrentar o absurdo dilema de “ou nós ou eles”, sendo que eles são as outras formas de vida que não a humana nem diretamente útil a ela. Precisamos chegar a esse ponto?
Autor:
Abel Aquino
De fato é importante pensar nos dois lados da moeda, não apenas em preservar, se não há uma solução para o crescimento populacional…