Com o agravamento da crise sanitária (N-Covid 19) que acomete o país, estamos passando por experiências jamais vista pela maioria da população. Filas nos hospitais aguardando vagas para internações tanto em enfermarias quantos em leitos de UTI.
Lendo o noticiário via internet, uma me chamou a atenção que foi o fato das autoridade da cidade de São Paulo estar cogitando efetuar os sepultamentos por inumação (https://www.jornalcruzeiro.com.br/opiniao/artigos/cemiterios-pos-pandemia/) em apenas 3 cemitérios na cidade. Por uma questão de logística me parece uma boa ideia mas para o meio ambiente uma atitude como essa, se não for bem efetuada, pode produzir efeitos negativos ao meio ambiente.
Em um processo normal o cadáver passaria por quatro etapas para sua total decomposição: período de coloração, período gasoso, período coliquativo e período de esqueletização. As autoridades competentes calculam um prazo médio de 4 a 5 anos para completa decomposição no caso de um adulto, considerando que a temperatura, umidade, aeração e tipo de solo sejam os corretos.
Pesquisas indicam que cada corpo adulto sepultado libera entre 30 e 40 litros de necrochorume no seu processo de decomposição, portanto se colocarmos 50 corpos no mesmo dia teremos a formação de, no mínimo, 1500 litros desse material e após 10 dias com essa constância de sepultamento teremos 15000 litros de necrochorume que terá uma tendência natural de alcançar o aquífero freático e contamina-lo e ao mesmo tempo a decomposição dos corpos e seus invólucros poderá causar a contaminação do solo também com uma adição abundante de metais potencialmente tóxicos.
O acumulo desse liquido no solo também pode contribuir com a conservação dos corpos (saponificação) uma vez que o solo pode permanecer muito úmido dificultando o trabalho das bactérias decompositoras. Caso ocorra esse fenômeno, os locais onde foram sepultados esses corpos não poderão serem reutilizados, havendo então a necessidade de novos cemitérios.
O novo protocolo, desenvolvido para ser utilizado pelo ministério da saúde acaba auxiliando esse processo de conservação uma vez que os sacos são impermeáveis, portanto no processo inicial de decomposição o corpo fica imerso no seu próprio líquido.
Diante do exposto, só nos restaria cremar os corpos mas estamos com problemas no único crematório da cidade onde a fila para cremação está longa portanto estamos agora em colapso da saúde e também na saúde pública.
Como a cremação não comporta tantos cadáveres só restam os cemitérios portanto seria imprescindível, antes de tomar as medidas quanto aos cemitérios escolhidos fossem feito uma avaliação ambiental preliminar e ter medidas de contenção para todo esse líquido.
Francisco Carlos da Silva
Químico e professor das Secretarias Estadual e Municipal da Educação de São Paulo, mestre em Análise Geoambiental pela Universidade de Guarulhos. e doutor em Ciências Ambientais pela Unesp-Sorocaba.
De fato um grande problema ao meio ambiente. Embora, o que ocorra por vezes, é se pensar em uma solução, ter uma boa ideia, mas esquecer-se de fazer um estudo geral da solução, avaliando todos os aspectos que envolvem esse procedimento. É fato que precisamos de uma solução urgente, pois os cemitérios estão lotados, e ainda estamos longe do fim desta terrível pandemia.