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quarta-feira, 24 de abril de 2024

Filosofia

Proposição

            Vamos definir uma proposição como: dizer algo sobre alguma coisa. Uma afirmação será definida como uma proposição que diz X sobre Y enquanto que uma negação será definida como uma proposição que diz o oposto de X sobre Y.

A a negação de “proposições são possíveis”, ou seja, “proposições não são possíveis” diz algo sobre alguma coisa, portanto, é uma proposição, portanto, proposições são possíveis.

Mas partimos da premissa não provada de que “proposições não são possíveis” diz algo sobre alguma coisa. Ao assumir que essa negação não diz algo sobre alguma coisa ela deixa de ser uma proposição e portanto deixa de ser uma negação, e, independentemente do que nós definimos como negação, uma negação é sempre uma negação.

Portanto, dado os conceitos de: proposição; afirmação; negação. Podemos definir que “proposições são possíveis” é verdadeiro.

Como minha última definição, uma proposição verdadeira é uma proposição que não contradiz os seus próprios conceitos. A proposição “proposições são possíveis” poderia não ser verdadeira a partir do momento em que você muda a definição de qualquer um dos conceitos listados nesse parágrafo.

Conceito

            Vamos definir um conceito como a referência a algo.

Se uma proposição diz algo sobre alguma coisa, existe algo para ser dito sobre, que seria o conceito.

Ao negar que conceitos são possíveis você nega que proposições são possíveis, o que já foi provado como errado.

Se um conceito é a referência de algo e conceitos são possíveis, é possível conhecer algo para se referenciar.

Vamos definir a experiência como a forma que nós temos de conhecer as coisas para se referenciar

Ao negar a possibilidade da experiência você nega a possibilidade de conceitos e nega a possibilidade de proposições, portanto, a experiência é possível.

Vale ressaltar que não existe uma definição “correta” para um conceito, o que nós conhecemos como “manga” poderia significar “roxo” e o que nós conhecemos como “azul” poderia significar “sabugo”.

Conceitos podem se referir a uma única experiência indescritível, como por exemplo “azul”, “verde”, “azedo” ou para um conjunto de experiências indescritíveis: “manga” diz tanto sobre cor quanto sobre forma quanto sobre material, outros conceitos como “mesa”, “quadro” “garagem” também se referem a um conjunto de conceitos irredutíveis.

Algo

            Se podemos nos referir a algo através de conceitos, algo pode existir.

            Nós só conhecemos algo para nos referir por causa da experiência, porém algumas proposições podem ser verdadeiras, ou seja, não acrescentam nada aos próprios conceitos embora não os contradigam (exemplo: todo solteiro não é casado; todo mamífero não é um réptil; proposições podem existir), ou indeterminada, que seria quando a proposição diz algo que não contradiz suas próprias definições porém acrescentam alguma informação a ela (exemplo: a manga é bonita; todo solteiro é gordo; todo suco é azedo).

            As proposições indeterminadas só irão fazer sentido caso acompanhadas pela experiência por que só ela pode se referir a algo além da sua definição. Enquanto que as proposições verdadeiras, embora não possam negar a possibilidade da experiência, não dependem dela para serem conhecidas, por exemplo, “pensar” se refere a uma experiência irredutível, que pressupõe a existência daquilo que pensa, portanto, se você pensa, você existe.

            A proposição acima, embora dependa da experiência de pensar, é necessariamente verdadeira pois ela apenas depende da definição de pensamento e não de nenhuma particularidade apenas perceptível pela experiência.

            De qualquer modo, vale lembrar que se uma premissa é incerta, a sua conclusão não pode ser verdadeira necessariamente.

Ação

            Agir é análogo ao pensar no sentido de que toda ação pressupõe um pensamento que a deu origem.

Vamos definir a ação como o uso de meios para alcançar fins.

Vamos definir meios como qualquer recurso que só pode ser concebido através da experiência: um copo; um barco; uma fruta; etc. Vale ressaltar que nem todo meio está disponível, querer comer uma fruta, por exemplo, não implica que a fruta vai aparecer instantaneamente e que você pode comê-la, esse conceito de que nem todos os meios estão disponíveis será chamado de “escassez”. Se meios não fossem escassos não haveria ação.

Vamos definir fins como qualquer estado futuro subjetivamente melhor: encher a barriga; pilotar um carro; estar dormindo; etc.

A negação oral, escrita ou de qualquer forma de que a ação pressupõe o pensamento implica que tal negação não surgiu de um pensamento. Por não ter surgido de um pensamento, não é uma negação, é apenas um evento qualquer assim como uma árvore caindo no chão ou o grunhido de um animal, por exemplo. Pelo mesmo motivo de uma negação ser sempre uma negação, toda ação pressupõe o pensamento. A batida do coração ou ações de puro reflexo serão considerados apenas eventos.

Embora a ação seja algo necessário, os meios e fins da ação não são dedutíveis assim como não podemos deduzir o conteúdo do pensamento, porém sabemos que ambos, o pensamento e a ação, necessariamente podem ocorrer.

Arte

            O pensamento não pressupõe a ação, a ação que pressupõe o pensamento.

Alguns pensamentos podem surgir em momentos onde o indivíduo não sente que o seu próprio estado atual de satisfação é insuficiente.

Se esse pensamento causa um estado de insatisfação subjetiva com o estado atual do indivíduo, surge nele a necessidade de agir com base nesse pensamento (comumente chamado de “se expressar”), porém ele foi a causa da insatisfação e não a sua aparente solução, esse tipo de ação, ou o resultado dela será definida como “arte”.

A causa da sensação de que o estado atual é insatisfatório foi o “pensamento artístico”. Será que podemos saber uma causa necessariamente verdadeira para toda a ação, seja ela artística ou não?

Não podemos dizer que o motivo de toda ação é a pura biologia humana, pois ela não é dedutível, em outras palavras, não é possível concluir que a ação é necessária se o motivo de toda ação for algo incerto.

A ação tem um motivo dedutível, porém isso não significa que a biologia não influencie a ação. Algumas ações são quase que impulsivas e se aproximam mais de eventos do que de ações propriamente, como a ação de alguém tomado por ódio, medo ou qualquer coisa que obscurece o seu raciocínio.

Comunicação

            Vamos definir comunicação como a capacidade de uma mente reconhecer outra

Dizer “a comunicação não é possível” é uma contradição já que não há um motivo racional de você ter dito isso já que você não acha que uma mente pode reconhecer a sua proposição.

Se a comunicação é possível, podem existir outras mentes.

Dizer “não queremos nos comunicar” é uma contradição já que se você não quer que outra mente reconheça o seu raciocínio, não há motivo racional de você o ter feito.

Se nós podemos e queremos nos comunicar e se para nos comunicar precisamos estar vivos, nós podemos querer nos manter vivos, mesmo que motivos irracionais possam obscurecer essa vontade.

Dessa forma, fica bastante claro que existem diferentes tipos de ações, as que tem como objetivo manter nossa própria vida (podemos chamar de “trabalho”), as com o objetivo de nos comunicar (podemos chamar de “arte”) e um outro tipo de ação seria a que tem como objetivo manter a vida de uma outra pessoa (podemos chamar de “caridade”).

Portanto, uma vida racional é uma vida cujas ações buscam ser trabalho, arte ou caridade. A ciência entra de acordo com essa teoria por verificar que em vilarejos primitivos contemporâneos, as pessoas de lá, que estão sempre trabalhando e lutando contra as condições naturais adversas, têm índices de depressão quase inexistentes, por exemplo.

Uma vida não racional é uma vida que nega algum desses princípios deduzidos, um bom exemplo seria alguém que tem um emprego, sabe uma forma melhor de manter sua própria vida mas não segue essa ideia por medo de rejeição social ou por questão de status. A rejeição social ou o status não se encaixa na vida racional já que é uma característica totalmente dependente da biologia humana, portanto, incerta.

Desse modo, podemos dizer que a causa de toda ação é a de manter a vida de um indivíduo (vamos definir “indivíduo” como uma mente que age) ou de se comunicar com um indivíduo. Agir pressupõe a crença na existência de outros indivíduos.

Ética

            Considerando que existem outras mentes pensantes e que essas mentes também agem, surge um problema. Se, por exemplo, dois indivíduos pensantes querem usar o mesmo meio para fins excludentes, qual dos dois tem o direito de fazê-lo?

            Em primeiro lugar, vamos nos relembrar que todas as diferenças que nós captamos entre um indivíduo e outro (cor de pele, tom de voz, emprego, título de nobreza, etc.) só são justificáveis através da experiência, ou seja, são indeterminadas.

            Portanto sabemos que os dois indivíduos do exemplo são fundamentalmente iguais independentemente de qualquer característica que nós usamos para diferenciar as pessoas. Se todos os indivíduos são fundamentalmente iguais e alguns podem usar um meio escasso enquanto outro não pode, todo o indivíduo tem o direito fundamental sobre determinados meios escassos (vamos chamar de “direito de propriedade privada”).

            Vale lembrar que ao dizer que esse problema não deve ser resolvido, sabendo que os dois indivíduos são iguais, implica que nenhum indivíduo pode usar meios escassos (o que está errado pois “eu posso agir” é uma proposição necessariamente verdadeira) ou que todos os indivíduos podem usar o mesmo recurso escasso para seus próprios fins (o que está errado já que os fins podem ser excludentes, ou seja, caso alguém possa agir usando esse meio implica necessariamente que outro indivíduo não pode usar esse mesmo meio para um fim que exclui o primeiro);

            Embora todo indivíduo tenha o direito de propriedade privada, qual meio escasso ele tem direito sobre é um conhecimento incerto.

            Porém há uma exceção, pois dizer que um indivíduo não pode usar o seu próprio corpo implica que ele não pode agir, uma vez que o uso do corpo é uma experiência irredutível ao indivíduo e que toda ação a pressupõe. Nós sabemos que um indivíduo age, portanto sabemos que ele tem direito de uso sobre seu próprio corpo e que qualquer ação que impeça o uso do corpo de um outro indivíduo para os seus próprios fins é uma ação objetivamente errada caso os seus fins sejam excludentes aos fins do indivíduo.

            Quanto aos demais meios escassos, podemos dizer que os meios que são resultado direto do corpo de um indivíduo pode ser considerado dele a menos que ele transfira esse seu direito particular a outro indivíduo, essa ideia é considerada como o “Homesteading lockeano”. Toda comunicação tem falhas pois ela pressupõe a incerteza dos meios escassos inerentes à ação e inerentes à experiência. Desse modo, pode não haver clareza quanto a se um meio é resultado do uso do corpo de um indivíduo ou se ele não foi apropriado por ninguém, também pode não haver clareza quanto a se um meio foi transferido para um indivíduo ou não. Todos esses outros conflitos são decorrentes da estrutura fundamental do conhecimento, não são conflitos lógicos de nenhuma maneira.

            A apropriação de recursos escassos através da declaração, como por exemplo: “eu declaro que X território é meu”, não resolveria o problema uma vez que outro indivíduo poderia fazer essa mesma declaração e seria impossível decidir qual das declarações (idênticas) estaria certa sem antes pressupor que um indivíduo é fundamentalmente diferente do outro.

Autor

Bernardo Almeida Oliveira Novaes

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