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domingo, 17 de novembro de 2024

Crônica sem assunto

Minhas crônicas de quinta

Atenção! Esta crônica não tem assunto. Se você encontrou algum, vá em frente, converse, e não perca o seu tempo comigo. Sério!

Agora, se estava olhando pro nada, ou comendo as unhas, ou balançando as pernas – parado no tempo à espera de que algo aconteça – e optou por ficar… fique à vontade. Ou melhor, pouco à vontade, meio constrangido. Sabe… eu estou na sua frente, mas não tenho assunto. E me parece que você também não.

Calma, não vou te encarar. Está tudo bem! Nem sempre temos o que falar. E, convenhamos, fala-se tanto por aí. Fala-se o que não sabe. Fala-se mal e o que não deve. Fala-se mais que o homem da cobra. Fala-se pelos cotovelos, e também pelas costas.

Por essas e outras, às vezes, prefiro ficar quieta e só observar. Me canso. Imagina quem trabalha no call center, vendedores – ambulantes ou não – locutores, professores, palestrantes, atores. Valha-me Deus! O silêncio, às vezes, vale ouro.

Aqui estou, balançando minhas pernas e roendo as unhas. Se pelo menos eu estivesse confortável… mas não é o caso. Eu olho pra você e trocamos aquele sorrizinho, até que, finalmente abro minha boca:

– Nossa, que calor, hein!

Demais! – você concorda.

– Queria tá em Madri.

– Oi?

Em Madri. Queria tá lá em Madri. Cê viu que sábado passado deu a pior nevasca dos últimos 50 anos? – eu te pergunto.
E você responde:

– Eu vi alguma coisa… Pra lá é inverno, né?

– É… E eles jogam sal, na neve… pra derreter.

– Ah, é? Eu não sabia não.

– Uhum, não sabia também não. Fiquei sabendo hoje, quando eu vi a notícia.

– Caramba…

E você olha pro nada novamente e fica pensando… em Madri, na neve salgada, e que, tá calor, mas você só queria uma chuva e uma brisa fresca (e não uma tempestade de neve).

Dizem que é sinal de grande intimidade quando se está perto de alguém com quem consegue-se ficar em silêncio por muito tempo sem que haja constrangimento algum ao dois. Também é sinal de grande intimidade quando os assuntos surgem, sem pudor, pois quando ele não existe, fala-se e cala-se tão naturalmente quanto se respira.

Bem… Ainda ficaremos um bom tempo frente a frente, aguardando, volta e meia nos olhando e batucando qualquer coisa com os dedos. De todo modo, fique em paz. Não repara não, acho que vou abaixar minha cabeça e tirar um cochilo ou ler alguma coisa nesta revista que tem aqui… uma crônica, talvez, dessas, sobre um assunto qualquer.

[Obs: essa crônica foi originalmente escrita dia 14/01/2021]

Luana Carvalho
Luana Carvalho
Arquiteta, cria da Unesp - Presidente Prudente. Brasileira, com 27 anos de sonho e de sangue, e de América do Sul. Escrevo porque não sei guardar segredo.

2 COMENTÁRIOS

  1. Me identifiquei muito, parabéns!!
    Eu tenho a minha listinha de assuntos genéricos.
    Como tá o tempo? O que achou do jogo? O que tá achando da Pandemia?

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